quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sem voz






A voz saiu-me rouca!
São cinco da tarde e ainda não tive um som que definisse a minha voz
Falei com um caracol que lento passou na minha janela!
Estou sem tempo!
Ou com tempo a mais?
Começo a sentir as pernas pesadas.
São horas de dias de noites sempre iguais.
Não falo!
Não caminho!
Só vejo o que me rodeia e o som do relógio…
Está frio…
Tanto frio em tudo!
Um frio na alma
Um gelo tão denso…
Será que voltarei a caminhar ao sol?
Meus órgãos funcionam…
Minhas pernas caminham e meus braços movimentam-se.
Estou fechada!
Presa!
As paredes são altas e intransponíveis.
Repito o meu nome!
Chamo pelo caracol!
Tenho voz sem fala.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Prece






Não acredito em preces
Nem acredito em milagres!
Resta-me imaginar como se ora em imaginação
Como se esquece tudo.
Apagarei do meu sentir tanta dor e mágoa?
Olharei para ti depois de dias de prantos…
Como se meus olhos não tivessem marcas?
Da vulgaridade que te tornaste…
Chegarás límpido e nobre.
Mas apenas chegarás…
Jamais os sulcos de dor se apagarão da minha alma.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Altar





Deixa que os pássaros rondem o meu altar
Apenas os terei em homenagem
Não te aproximes.
Eles levarão a minha alma voando em liberdade.
Finalmente livre de pesos incapazes.
Livre como o infinito do céu
Onde me espraiarei em delícias
Ausentes da albarda pesada
Que desumanamente colocaste em meus ombros
Julgando-te livre!
Vivendo indiferente!
Jamais serás livre!
Uma réstia de consciência atormentará os teus dias.
Não se mata só com armas…
Mata-se com cargas incapazes de suportar.

domingo, 2 de novembro de 2008

O céu





O céu cobre-me com um manto gelado
Estou tão cansada!
Tão faminta de paz, de sossego.
Apenas um colo…
Um colo de seda e mudez.
Mas um colo onde não escorregue em ansiedade e insegurança
A seda que tenho é escorregadia
O céu que me cobre gela-me todos os instintos
Sinto-me apagar em frios de medo.
O sol transformou-se num hálito gelado
Envolve-me e cristaliza-me.
Não gosto de ser o que não sou.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ceguei





Por eles e por mim
Comecei em usos e atitudes iguais às tuas.
Visto-me de omissões e enigmas
Preparo caminhos que te farão sofrer.
Revesti-me de capas de força e resistência
Não mais ficarás impune perante o que fizeste.
Aderi ao teu jogo
Usei o teu punhal como arma.
Subestimaste-me julgando que por amor tudo suportaria.
Jogaste com as minhas emoções.
Brincaste tempo demais com os meus sentimentos.
Que julgavas?
Que te tinhas endeusado?
Não sabes que o amor tem que ser recíproco?
Que deste em troca de tanto?
Verás!
Verás a seu tempo…
Como do «Deus», nada restou.
As cruzes que me fizeste carregar
Deixaram de andar ao peito.
Pesam-me apenas nas costas
Mas não as vejo!
Ceguei!

domingo, 26 de outubro de 2008

Agora é tarde!





Agora é tarde!
Nem choro, nem compensações...
Pagarão os dias, as horas que não ficaste comigo.
Apenas contam os dias …
Tão poucos, em retribuição de uma vida.
Vida inteira doada.
Precisei em momentos que te chamava.
Nos momentos em que precisava tanto!
Quando me sentia só.
Assustada
Com pesos enormes
Sem força para levá-los.
Não me leves flores.
Não me elogies.
Nem me dês jazigos de ouro
Nem lágrimas…
Nada limpará o tempo…
O tempo!
Em que me abandonaste.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Acabei por cair!



Nunca pensei usar máscaras
Nunca imaginei caminhos escuros nem omissões
Esperei caminhos de luz e verdade
Ansiei por ser diferente num mundo escuro
Com mil faces de mentiras
Esperei que nada me atingisse em dias tumultuosos
Espalhei amor, lealdade e paz.
Em retorno nada recebi
Cobri-me de véus dúbios
De noites mal dormidas e ondas de sofrimento.
Gritei e chorei não querendo vestir-me assim.
Como em fardas de apresentação iguais e omissas
Tu …
Tu assim quiseste!
Que me manchasse em deslealdades
Em sorrisos escondidos
Em atitudes iguais
Caiu a máscara prostrada no chão!
Temo dizer o que me vai no espírito!
Vamos ver quem na disputa a que me propus, ganha!
Para que nunca esqueças
Que a vencedora fui eu!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Entre o arvoredo



Como fiquei tempo demais pensando em dias de sol
Quanta ilusão
Ignorância possivelmente…
Embriaguez!
O mundo corria num desenfreado galope esquecido de mim e eu dele.
Eras tu!
Só tu o meu mundo!
Vago este estar na vida…
Utópico
Cauterizei-me em absoluto
Como se pode ser louca a este ponto?
Acho que lentamente me vou afastando
Caminhando só e segura
Lentamente entre o arvoredo
Aos poucos…
Pisando dores, silêncios, a minha abnegação
As injustiças e o esquecimento.
Desamor e egoísmo.
Em breve, mesmo contigo estarei só
Desamparada inteiramente
Mas habituada
Sem saber receber nem dar

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Por ele...



Quando se trata dele….
Quando o comer não basta.
Quando a desilusão o magoa…
Quando me acusas sem motivos.
Sai-me do coração um ronco feroz.
E estrangulo-me em náuseas.
Louco!
Que fizeste?

domingo, 21 de setembro de 2008

Palavras de vento





É incrível a tua subtileza
A maneira tão ardilosa com que me imputas culpa.
Como julgando-me ainda inocente, me manipulas em jogos de palavras.
Eu acordei!
Já não sou a mesma que outrora me orientava pela luz do teu farol.
Como é mais fácil defenderes-te atacando e culpabilizando-me
Como tu próprio…
Estás interiorizado de erros.
E não os admites.
Não……
Não me fazes de marioneta pulando nos dedos hábeis da tua mente.
A boneca que tocavas ao som que te aprazia…
De repente criou vida.
Tens medo que o meu cérebro pense?
Tens medo que não me deixe intimidar nas verdades utópicas que defendes?
Cala-te!
Esconde a tua consciência debaixo de um lenço ao vento
Mas nunca penses….
Nunca penses que intimidada
E com as certezas e virtudes por ti defendidas
Que me farás pensar diferente.
Quando o ajuste acontecer.
Por insinuações, por acusações, por falsos moralismos…
Como gostarias que fosse.
Ainda por cima!
Como te daria jeito…
E prazer!
Sossego!
Ou quiçá a paz para a tua vida insípida, irreal e de persuasão falsa.
Que tranquilidade te daria…
Ser eu a pedir perdão.

sábado, 20 de setembro de 2008

Fome




Fome ….
Imagem de fome intrínseca
Os olhos do vazio
Olhando para mim na esperança da queda
A morte rondou-me dias a fio
A imagem estava lá
Engolia-me em cada dia e minuto
Era um pesadelo
Sem sono, sem sonho, sem acordar.
Era real.
Olhava-me querendo tragar-me
Esperava por mim em cada gesto, em cada madrugada, em cada dia.
Olhei-a vezes sem fim
Enfraqueceu-me o confronto
Pensei que jamais a afastava
Os olhos……
Aqueles olhos!
Cegaram olhos cristalinos
Deixaram de ver.
Irremediavelmente
Em maldição.
Guarda, guarda o espectro
Padrão magnético de tanto sofrimento.
O mesmo que te acompanhará para sempre.
Porque nele deixei a minha tortura.
A tortura que te acompanhará perpétuamente.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Desejo?





Não te desejo como pensas!
Desejo-te em exemplo.
Desejo-te em passado.
Não te posso desejar
Falhado.
Vendido.
Humilhado.
Pequeno de alma e de atitudes.
Como poderei desejar-te quando a nobreza em ti acabou?
Sinto-te rastejando
Sem o orgulho que me envolvia e que te fazia grande.
Aos poucos esvai-se o meu sentir nas tuas fraquezas.
Não te ergues em força.
Não tens opinião nem vontade
Ainda me falas de amor?
Amor a quê? A quem?
Renegaste-nos!
Amamos-te em orgulho
Vai! Faz o que te ordenam!
Humilha-te...
Servo da ignorância.
Hoje, apenas hoje, perdi o sono
E zanguei-me comigo.
Afastam-se os dias que por ti perco noites pensando
Como? Como?
E escrevo…
Escrevo …
Para que não me ouçam gritar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Elo





Apenas um elo se mantinha.
Na corrente forte e segura
Um elo chamado verdade.
Vai-se partindo na força das omissões
Da intuição…
Da intuição que clama para que a porta se feche.
Não te quero sentir, nem bem nem mal.
Quero-me livre de preocupações
Eram de amor e dedicação.
Parte de vez a corrente.
Deixa-me em paz comigo própria!
Quero sossego, um sossego novo
Um sossego único e inédito
Não o retorno do mesmo sossego…
A paz que me invade quando em vazio
Nada tenho
Nem nada me fustiga.
Vai …
Vai-te embora de vez da minha preocupação
Do meu íntimo que tenta proteger-te em todos os obstáculos.
Cai despedaçado no chão da tua estupidez.
Não me peças que recolha os cacos do que vai sobrar.
Não me terás para isso!

sábado, 30 de agosto de 2008

Tortura




Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
-- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
-- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Florbela Espanca

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Tântalo



Hoje escrevo em nome do meu filho

Sim, meu filho.

Apenas meu e somente meu.

Meu…

Mesmo nada sendo meu.

O filho que cresce sem ti

Que precisa e nunca estás.

Que me abraça fazendo-se homem, quando precisa de ser menino

Do filho que adoras em palavras

E te ausentas em dedicação

Do menino que não tem refúgio em ti

Que como Tântalo, tem água e não a bebe.

Que o privaste do que mais queria

Que se embebeda em dias contados, sem regressos.

Não chora porque não pode.

Tem receio por amor, que o veja chorar.

Ouve-o se consegues…

Chorou ontem!

Não consegui limpar-lhe as lágrimas

Deixou de chorar

Para que eu não chorasse.



terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ambiguidade



Agora entendo o porquê

Agora sinto o justificar de tanta dor.

Encontrei o caminho vivido entre lamentos e medos

Agora entendi o porque, em ânsias me assustei.

O sentir ambíguo...

Este duplo sentido em confusão

O passar de horas lentas

De prantos sem fim

De não saber se era dor ou loucura

Se me amavas ou me ferias

Agora entendo

Que era medo!

Medo de mim…

De sentir moribundo o meu sentir.

De saber que acabaria sem lamentos e sem lágrimas.

Porque todas foram choradas, quando comungaste em certezas

Julgando que te amaria para sempre.

Tanta ambiguidade, que quase morri por sentir que aos poucos …

O bem-estar de te amar se perdia

Que aos poucos…

Era eu que te esquecia.

domingo, 17 de agosto de 2008

Ressuscitando



Pensavas que me enterravas viva

Julgaste vezes sem conta um fim próximo na fraqueza

Ah! Como me senti...

Como me julguei incapaz e fraca

Como tive delírios de dor e ouvi no meu íntimo uivos de lobos rasgando-me a alma.

Foram momentos que só a lucidez de alguns entenderá

Lucidez e diferença.

A tua presença foi sempre ausente mesmo nos momentos presentes

O teu interesse julgado em concepções feitas por mim

Pensei-te diferente

Empossei-te de valores

Fiz-te um ser com maiúsculas

Esperei que estivesses ao meu lado nos momentos apenas necessários

E...

Tu perdias-te em quimeras

Em ilusões utópicas

Ferindo e apunhalando o que em oferta pura possuías.

Enfraqueci!

Mas fraco e imperdoável ficou, quem me fez desenterrar de escombros de lama

Julgando-me que vulnerável, dorida e enfraquecida, nunca mais me erguia.

Ressuscito!

Cansada e débil.

Mas viva!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Garcia Lorca



No duerme nadie por el cielo.
Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan
y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas
al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.

No duerme nadie por el mundo.
Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Hay un muerto en el cementerio más lejano
que se queja tres años
porque tiene un paisaje seco en la rodilla;
y el niño que enterraron esta mañana lloraba tanto
que hubo necesidad de llamar a los perros para que callase.
No es sueño la vida.
¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
Nos caemos por las escaleras para comer la tierra húmeda
o subimos al filo de la nieve con el coro de las dalias muertas.
Pero no hay olvido, ni sueño:
carne viva. Los besos atan las bocas
en una maraña de venas recientes
y al que le duele su dolor le dolerá sin descanso
y al que teme la muerte la llevará sobre sus hombros.
Un día
los caballos vivirán en las tabernas
y las hormigas furiosas
atacarán los cielos amarillos que se refugian en los ojos de las vacas.

Otro día
veremos la resurrección de las mariposas disecadas
y aún andando por un paisaje de esponjas grises y barcos mudos
veremos brillar nuestro anillo y manar rosas de nuestra lengua.
¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
A los que guardan todavía huellas de zarpa y aguacero,
a aquel muchacho que llora porque no sabe la invención del puente
o a aquel muerto que ya no tiene más que la cabeza y un zapato,
hay que llevarlos al muro donde iguanas y sierpes esperan,
donde espera la dentadura del oso,
donde espera la mano momificada del niño
y la piel del camello se eriza con un violento escalofrío azul.
No duerme nadie por el cielo.
Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Pero si alguien cierra los ojos,
¡azotadlo, hijos míos, azotadlo!
Haya un panorama de ojos abiertos
y amargas llagas encendidas.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
Ya lo he dicho.
No duerme nadie.
Pero si alguien tiene por la noche exceso de musgo en las sienes,
abrid los escotillones para que vea bajo la luna
las copas falsas, el veneno y la calavera de los teatros.


quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sopro



Terminei o meu luto.

Tirei de cima de mim o véu que me toldou a vida.

Mas a ti!

Soprei na tua alma, tanta dor e angustia...

Que rogo que vivas mil anos arrastando correntes de maldição

Em silêncio e lágrimas baptizei-te para sempre.

Soprei a tua geração presente e vindoura

Com mil forças reunidas

Pagarão em dobro os teus actos e atitudes

O sofrimento que causaste

Assim será!

Enquanto uma gota do teu sangue, mesmo em parentesco afastado

Habitar este mundo e quiçá, outro se existir.

Até à extinção dos tempos, pagarás por tudo...

Maldita!


quarta-feira, 30 de julho de 2008

Estagnado



Estagnado e em raízes sem fundo

Assim te vejo

Sem cabeça...

Perdido em desertos de quimeras

Esquecido até de ti

Iludido e mal tratado

Tu!

Tu foste tão sublime.

Tão respeitado e amado.

Como se pode perder a inteligência!

Como se pode ser invadido de tal forma….

Que até o amor-próprio se esquece!

Que ganhaste?

Desilusões…

Comédias …

Um palco de vida que não é teu

Perdeste a palavra

A honra

Perdeste-te em caminhos sinuosos e sem rumo.

No fim….

Depois de usado…

Deitado longe do lixo…

Fora do lixo

Bem longe do lixo, onde estagnaste.

No pântano lodoso de mentiras e teatros baratos

Lá permaneceste

Julgando enobrecer, transformar, dar valores…

Ingénua cabeça!

Perdeste o tino?

Modificar?

Tão arreigadas atitudes e condutas?

Como te iludiste!

Esse lixo jamais mudará.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Adorada



Já sem forças…

Cansado e velho.

Corpo deformado pelos anos

Espírito em erosão de complexos

Mente em trapos e desencantos.

Personalidade esgotada em falsidades

Alma doente de angústia

Humilhado como um escravo.

Depois de tanta servidão…

De tudo fazer e tentar…

Porque não?

Deita-te com ela

Dá-lhe o teu corpo gasto

Que se não morrer de veneno

Será comentado em noites de gargalhada

Em conteúdo de conversas habituais

Que não sendo de homens…

É de Armani ou Dolce Gabbana

De dinheiro, ou cristais mal pronunciados

Porque de que mais podem falar?

Emergentes em sociedade

Pobres em atitudes

Esfomeadas de sabedoria.

E tão adoradas…

domingo, 27 de julho de 2008

A estrada do sítio sonhado



Pela estrada do sítio sonhado.

Silencio e gelo.

Um gelo cortante em dia pleno de calor.

Percorrida mil vezes…

Em cumplicidades de vida

Em sonhos vindouros

Em paz e dádiva.

A estrada…

A mesma!

Mas nós, tão diferentes no sentir.

Apenas de hábitos trajados.

Lado a lado mas afastados.

Os sonhos perderam-se em caminhos sujos.

A paz apenas existe…

Porque me calo indiferente a tudo.

Os sonhos afastaram-se em deslealdade e estupidez.

Recolho pedaço a pedaço

A tua ignorância

A tua deslealdade

A imbecilidade

A tua fraqueza cheia de pústulas nauseabundas.

Ainda me custa!

Ainda me custa sim…

Saber que amei a vulgaridade

Que me dediquei totalmente

A um fraco.

Um ser tão vulgar e rastejante

Que se tivesse força…

Irava-me contra mim.

Contra mim apenas

E nunca contra ti

Porque nem a minha ira tu mereces.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Só!



De novo escrevendo sem saber como se escreve.

Num vazio saboroso e sereno.

Vou gostando de mim, do meu equilíbrio

Das dores da alma que vão passando.

De me convencer, que apenas me devo amar a mim.

Como me esqueci de viver!

Esqueci-me completamente.

Trancada num mundo de dor e angustia...

Enquanto lá fora, as flores continuam a abrir-se em tons lindíssimos

As nuvens surgem em mil formas

O mar, mantém a seu tom da maneira como o quero ver.

O mar… tão identificado comigo!

Tanto tempo revolto e cinzento.

O meu coração tão cinza como esse mar.

Tão imenso na extensão de dar.

Dar!

Dei tanto!

A porta fechou-se nas tuas costas.

Olhei

E somente um sorriso.

Tudo me parece vago.

Pela primeira vez sem lágrimas.

Sem dor.

Em casa o teu lugar vazio…

Mas nada me dói.

No chão deitada…

Respiro fundo!

Sinto paz.

Sinto prazer na solidão.

Afinal…

Sempre estive só.

Apenas, demorei a acreditar.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Intuição




Foi intuição…

Claro que foi!

Bem no íntimo fiz-te diferente.

No âmago do meu ser, nunca poderia ser nem acontecer.

Como ruíram os pés de barro em mil pedaços partidos.

O ídolo

O tão amado

O esperado

O amigo

Amante eterno como me pedias…

Caído em tentação, é possível…

Na escolha triste

Ausente de senso e imbecil apenas.

De repente…

Do orgulho fez-se pena

Do orgulho, fez-se dó

Da lucidez…

Em nós que tanto te amámos

O espantalho perdido

O espantalho!

Triste, usado, sozinho e imbecil espantalho.

Quando te toquei



Incrédula e tranquila

Quando te toquei…

Senti que não eras tu.

Apenas resta uma imagem longínqua e esfumada

Apenas um hábito

Um hábito perdido em anos

Um ser faminto de dignidade

Esfomeado de sabedoria

Esfarrapado no vestuário da alma.

Toquei, pensando ser irrealidade

Mas de ti nada resta

A não ser o fumo escoando-se nos dedos dos meus sentidos

A vergonha de te ter feito diferente.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Será magoada a presença!

Voltou a ser adolescente

Ao fazer de mim um homem.

Se necessário não comia, para que eu me alimentasse.

Deu-se inteira...

Foi mãe, amante, mulher em pleno.

Deu-me seus braços, circulo abençoado de repouso.

Veio para mim sem interesses nem ambições.

Enfrentou com vigor de alma, as tempestades da vida.

Aliviou meu fardo nas horas más.

Cobriu-me com seu corpo nas guerras, para que não me ferissem.

Velou meu sono nas doenças que surgiram.

Limpou meus sapatos fazendo-me apresentável, bonito.

Guerreira implacável sem temores...

Frente às leis de sabedores e juristas, nada era obstáculo.

Dava a face com sapiência e vencia!

Do impossível, fez possível.

Não distinguia classes sociais...

Nem a assustavam manipulações importantes.

Todos os seres eram iguais.

Não tinha falsidade, nem mistérios, nem mentiras, nem omissões.

Amou a natureza.

Os espaços com linha de horizonte.

Falou com os animais.

Mandou recados pelo vento.

Beijos pelas estrelas.

Deixou o amor reinar sobre a inteligência

Amando amigos como irmãos

O irmão como um filho

Os filhos como relíquias

E a mim como um Deus!

Lembro-me da ternura do amor sussurrado baixinho...

Da força intrépida para segurar o leme

Do rumo do barco em que viajámos juntos.

Não cheguei ao âmago do seu entender, A VIDA.

Chamei-lhe poeta!

Abandonei a poesia que bebemos

E da qual todos saciámos nossa sede.

Nem nos filhos encontro parecenças dela

Pois até isso me deu!

Magoei-a, feria-a como se abate pelas costas, à traição, o inimigo

E...ela perdoou!

Seu porte altivo foi-se curvando de desgostos, de omissões, de falsidade.

Seus olhos pararam no vazio da dor...

Sem brilho, toldados de lágrimas, de silêncio...

Perdeu a alegria e mesmo assim fez-se mil vezes palhaço.

Nem sequer um beijo, um adeus....e ela partiu.

Nem sequer uma flor, uma hortense roubada para lhe dar....e ela partiu.

Nunca nada exigiu...e ela partiu.

Mas...no adeus deixou escrito

AI DE TI HOMEM QUE DOS DIAS QUE TERÁS PARA VIVER...

SEMPRE, SEMPRE, EM CADA FIM DE TARDE...

AO ENTARDECER!...

DE TODAS AS TARDES DOS DIAS QUE TE RESTEM...

TEU PEITO NÃO SE ENCHA DE SAUDADE

E TEUS OLHOS DE LÁGRIMAS POR MIM.

(Será eternamente para ti, o que deverias ter enobrecido )

quarta-feira, 2 de julho de 2008

No peito!




Perdida na juventude da vida

Mas em acolhimentos constantes

Escolhida em todos os momentos

Aqui estive de peito exposto

Em momentos de naufrágios

Em mil aventuras

Esperando sem alcançar

Que um peito me acolhesse

Que me fizesse parar

Parar apenas...

Poder sonhar

Sonhar o que de direito me assiste.

Que meus sonhos desviei

No desvelo que vos dei.

Estou exausta de ânsias

De abandonos e tormentas

De ser porto seguro e farto

De esperar em vão.

Sinto o vazio sugando-me

Sempre exigindo

Sempre chamando

A sombra que nunca chega

Na caminhada em que ando

A paz merecida

Dos momentos que me surgem.

Constantes e implacáveis

Enquanto vivem, alimentando-se de mim...

Dos meus momentos para vós

E por vós feitos!

Sigo calada e em surdina

Vou levando...

Vou levando...

Até quando?

Até quando…

Parasitas da minha existência.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Elegante e criminosa


Elegante…

A cadeira onde te sentaste.

O lazer e a comodidade

O nada fazer…

O absentismo moral em troca de…

Quem sabe?

Só tu!

A tua ausência permanente

Mas elegante e criminosa

Subtil e em rosto de anjo disfarçada.

É tão fácil assim!

Outros poisos, outras prioridades, outros caminhos.

Tranquilamente sentado de livro na mão

Apenas lendo

Lendo e relendo.

Mas vazio o sentido.

Dando fruto em outras árvores

Podando e adubando outros pomares.

Os teus frutos esquecidos

Caídos no chão

Perdidos na vida

Porém a cadeira…

domingo, 29 de junho de 2008

Amiga




Amiga…

Que me ouves vezes sem conta

Que choras comigo.

Que te preocupas.

No toque do telefone és tu que chamas.

Que longe, estás sempre tão perto.

Que te peço promessas…

E sorris.

Na perda, és tu a compensação

O entendimento

A irmã e mãe.

O regaço onde descanso.

O sono pleno

A tranquilidade que me dás…

Minha amiga sem omissões

Sem medos

Sem escuridão.

Meninas na alegria.

O luto escondido na dor.

Minha amiga

Tão só e nunca estamos sós!

Minha amiga

Não me deixes.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pérolas



Dizem que pérolas são lágrimas…

Velho e antigo ditado do povo.

Meus olhos deitaram fora mil pérolas de valor único.

Se alguém as recolhesse, ficaria rico.

Pérolas puras de valor incalculável.

Pérolas em lágrimas, vertidas nas noites de abandono.

Nas noites em que eu me desvelava em amor...

E tu …

Tu, esquecias-te de todos embriagado na noite.

Embriagado de liberdade.

Embriagado de sons.

Qual homem sem família, sem preocupações!

Na cabeceira da vida,

Zelava!

Deitava-me esgotada assistindo de longe aos caminhos perigosos.

Sentindo, rasgarem-me a alma.

Enquanto meus filhos e tu não estivessem bem.

Nunca descansei!

No limite da vida…

Nos momentos piores, cuidando teu irmão!

Fazendo de teu filho um homem.

Morrendo de medo por caminhos percorridos por tua filha.

Tens o céu longe de nós!.

Um céu tenebroso!

Perigoso!

Onde te envolveste.

Perdendo a pureza que sempre quiseste para todos.

As pérolas adornam-me o caminho

São milhares bordando o trilho

Brilhantes e lindas!

Deus colocou-as em mil canteiros por onde passo.

Em flores de mil feitios

O que terás quando um dia…

Quando em vez de dares tão pouco…

Precisares de receber muito?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Que bom!



Deixa-me estar como quero.

Em paz e passar o tempo sem saber

Nem datas

Nem horas

Nem minutos

Assim…

Olhando o vazio

Sem rumo

Sem nada

Apenas assim!

Esperando ninguém

Sem esperanças!

Caída em suspiros

Vivendo

Como pluma levada pelo ar.

Vivendo...

Porque meu coração não para.

Cobra



Conta o tempo…

Conta!

Mulher cobra!

Dos momentos que tiraste!

Das atenções desviadas!

Da minha filha esquecida!

Do meu filho afastado!

Do silêncio e da mentira!

Do uso que te apoderaste!

Dos benefícios sem fim.

Da família desmembrada!

Da fuga ao ninho.

Das falsidades e uso!

Conta bem o teu tempo…

Tempo chegará, que em miséria cairás...

E dos momentos que causaste

Em farrapos te transformarás!

Sofrimentos e dores a ti chamarás.

E nos ovos que puseste ….

Bem pior acontecerá!

Vida agreste reputarão!

Em desgraça cairão!

Porque a luxúria, a perversidade!

Não duvides...

Nesta terra, pagarás!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Jogo



Vamos jogar!

Vamos ver quem tem trunfos!

No caminhar de uma vida jogaste sempre.

Jogaste com o que tinhas à mão.

Da minha cabeça, uma bola de golfe em tacadas contínuas.

Mas de quem será a ultima carta?

No baralho velho e desfeito de uma vida fui paciente e submissa.

Tu …….

Jogaste!

Jogas!

Jogas com o que podes!

Com sentimentos

Com amizades

Com a mais nobre de todas as virtudes!

O amor!

Joga!

Continua a jogar.

Porque na aprendizagem de jogos

Tiveste a melhor aluna.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O teu olhar...




O teu olhar onde me banhei em azul de mar.

Onde a paz me enchia de força e ondas de ternura.

O teu olhar cegou!

Cegou de verdade e fechou as janelas da alma.

Não vê!

Não sente!

Está estático.

Dele apenas ficará a pureza

A doçura nas noites de amor e de escuridão.

Do azul….

Ficou negro!

Opaco e sem expressão.

Eles eram bem as janelas onde respirei.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Filha ouve o meu grito!



Esperei-te em ânsias.

Em amor concebida

As estrelas rejubilaram comigo em harmonias únicas

Esperei por ti…

Desde que me conceberam a mim

Sabia que existias em qualquer lado

Que te teria em mim.

Mesmo na alma feita em farrapos

Jamais descansei sem no último momento

Sem no fechar dos olhos, em sono incontido

A minha oração não fosse por ti.

Minha filha tão amada

Meu anjo de luz

Que na estrada da vida…

Abri espaços, cortei espinhos

Para que nela caminhasses sem escolhos.

Porque me condenas?

Porque te escondes?

Onde andas minha candeia sem luz.

Porque fugiste de mim?

Se eu prenhe de ti te trago ainda!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Mata-me

Si es que me quieres matar,
no esperes a que me duerma,
pues no podré despertar...

Mátame al amanecer,
o de noche, si tú quieres;
pero que te pueda ver
la mano;
pero que te pueda ver
las uñas;
pero que te pueda ver
los ojos,
pero que te pueda ver.


Nicolás Guillén

(post O'Sangi)
http://planoalto.blogspot.com/2008_05_01_archive.html

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Enquanto não chegas



Enquanto não chegas, meu espírito está tranquilo

Mas inquieta-se com a tua proximidade

Tenho medo!

Muito medo!

Faço de ti uma recordação de homem bom.

Apenas aquela, que quero construir e que me acompanha.

Mas tu vais chegar…

E o aproximar do dia…

Assusto-me!

Atemorizo-me!

Perco o sono!

Fico aflita!

Tenho medo!

Tanto, tanto medo!

Criei-te num imaginário que não corresponde ao ser que és.

Quero apenas pensar e manter no meu ego

O que idealizei e que mataste.

Vivo nesse mundo de ilusão

E nele quero permanecer

Não chegues!

Por favor não chegues para me fazer mal.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Penumbra



Transpiro saudade pelos ossos

A face pálida, por vezes rubra

Denuncia a penumbra

E o sofrimento nos meus olhos

Por que não cala-te

E adormece nesse peito?

Ó! Espectro de luz...

Carrasco do meu silêncio

Leva! Afasta de mim

Os vestígios dessa lembrança

De quem chora pela ausência

E teme pela distância

Porque minha alma

Não suporta tanta angústia

Aos teus ouvidos é música

E aqui nesse claustro

Prisioneira de mim mesmo

Me desfaço com o medo

Enlouqueço... Adormeço...

Por que tu és fogo que não arde

És paisagem fria e morta

És saudade que me invade

Destrói... Devora...

Não lembro quantos sorrisos

Cabiam em meu rosto

Tanto ardor! E quanto desejo!

Mas tu levaste todos...

Se Deus soubesse

Da minha existência

Não iria permitir

Tuas ofensas...

Por que me torturas

E não me condena?

Por que não me abandona

E me deixa morrer de tristeza?

Meu corpo é meu templo

É o resto em ruínas

É esquife do espírito

Que renuncia à vida...

Tu és a voz profana

Que ecoa em meus ouvidos

É a noite, é meu drama

Meu ritual de suicídi0

Transpiro saudade pelos ossos

A face pálida, por vezes rubra

Denuncia a penumbra

E o sofrimento nos meus olhos...



(Rodrigo Q.)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tantos cigarros...



Cigarro atrás de cigarro,

Com a tua imagem feita em fumo.

Que se desvanece dia a dia.

Vai sendo fumo apenas.

Eu…

Queimada por dentro.

Sofrida na alma e no corpo.

Esvaída em cansaços que eram também teus.

Tenho esperado por ti

Pensando que ficarias descansado sem mim.

Mas sinto-te exausto!

Cansado na mesma…

Perdido na vida

Pensando quimeras

Andando à deriva.

É essa a liberdade ansiada?

A falta de tudo, o não ter nada?

Vive!

Vive apenas!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uivo



Assim me levanto em uivo incontido

Em força inumana.

O grito de dentro

A dor espalhada

Em vales e ventos.

Titã de espíritos dormindo na alma

A raiva esmagada em silêncios perpétuos.

Levanto-me vezes sem conta

Uivando como animal ferido,em ânsias de morte.

Mas ergo-me em apoios inexplicáveis

Vindos de mundos desconhecidos

O som ecoa em mim, apenas em mim!

Como um rebentar de universos

Como o estalar da tempestade em dia de sol.

Não cairei!

O uivo é único

A força não cai.

Após a vida…

Ele ecoará em noites de paz

Em momentos que preparo

Para que o coração dos que amei

Se lembrem de mim.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Afastar




Quero afastar-me num dia frio

Sair sem que ninguém note.

Caminhar num túnel repleto de flores e folhas.

Andar lentamente para que nem o chão sinta o meu pisar.

Como apoio o nevoeiro da madrugada

Ouvir uma melodia sublime composta pelos meus sentidos.

Esquecer-me que parto

Que nada fica

Que em passos lentos e sem pressas descansarei

Assombração



Não chegues.

Vai-te embora e não atormentes os meus.

Aqueles que escolhi para amar a vida inteira

Vai.

Vai-te embora e não deixes marcas.

É tanta a minha fé que nunca conseguirás

Sinto o teu cheiro fétido rondar

Andar perto daquele que tão meu amigo foi a vida toda.

Afasta-te dele.

Lutarei com todas as armas contra ti

Não deixarei que o leves.

Não me assustas.

Não conseguirás.

Em mim está a esperança

E a força de te renegar.

Afasta-te morte maldita

Afasta-te daquele que não é meu sangue

Mas que o sangue dele me corre nas veias

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Assim?



Querias-me assim?

Assim desesperada e louca?

Destruída e convulsivamente em agonia

Mas não chegarei lá

Não conseguirás.

A minha força renova-se

O meu espírito quase que rasteja mas levanta-se

O meu ego fortalece-se com o tempo

Meu melhor amigo

O tempo…

Que não se move a rogos

Austero

Desapiedado

E tão cruel.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Finalmente




Soy el tigre.
Te acecho entre las hojas
anchas como lingotes
de mineral mojado.
El río blanco crece
bajo la niebla. Llegas.
Desnuda te sumerges.
Espero.
Entoces en un salto
de fuego, sangre, dientes,
de un zarpazo derribo
tu pecho, tus caderas.
Bebo tu sangre, rompo
tus miembros uno a uno.
Y me quedo velando
por años en la selva
tus huesos, tu ceniza,
inmóvil, lejos
del ódio y de la cólera,
desarmado en tu muerte,
cruzado por las lianas,
inmóvil en la lluvia,
centinela implacable
de mi amor asesino.

(Pablo Neruda)

Destapa-me



Destapa-me deste cárcere onde me encontro

Ajuda-me a sair deste emparedamento de espírito

Falta-me forças.

Ás vezes consigo respirar quando me dizes

Consegues!

Diz-me vezes sem conta

Todos os dias

Fecha os olhos e sente o que me atormenta

A minha alma está esvaída em sofrimentos

Em momentos que me levam tão fundo

Sem ninguém

Sem apoio

Apenas te tinha a ti

Onde repousar?

Onde deitar minha cabeça e esquecer?

Esquecer que me custa tanto

O que talvez…

O que nada!

O que nada custa aos outros.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Não choro, canto!



Não choro, canto ao vento

Ao vento que levará para longe os meus lamentos

Canto em choro

Mas sei que acabará

Sei que o choro se tornará melodia dos anjos

Sei que tudo passará

Que me revigorarei de forças e de ânimos

Sei que a dor não perdura

Que os desaires também terminam

Sei que sem me aperceber

Tenho tanto amor ao meu redor

Que o céu brilha e um dia começou

Que apenas …

Apenas e em silêncio!

Apenas, sofri muito.

sábado, 31 de maio de 2008

Chave



Toma deixo-te tudo

Os filhos que criei

As casas que preparei

As árvores que plantei

Os pensamentos mal escritos que escrevi.

Aquilo que o sentir nada significou,

Toma a chave do coração que maltrataste

Essa…

Recolhe-a da minha mão já inerte e cansada

Que sirva para abrir o teu coração

Que teus olhos vejam.

O que a tua alma cega negou.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ninguem e todos...



Sem ninguém…

E com todos

Caminho sim

Porque procuro por mim

Caminhos sós…

Porque procuro por mim

Em cada um de nós…

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Banho




Hei-de lavar-me de bondades

De sentimentos e dores

Deixarei cair de mim tudo o que fez sentido

Tudo o que dei e não recebi

Serei novamente outra em mim

Nunca mais verás o meu íntimo

Nem te darei a minha paz

Guardarei as horas amargas nas gavetas da tua alma

Para que as carregues nos dias e nas horas que tenhas para viver

Serei só de mim

Darei apenas a mim

E tu sentirás como é árduo

Como é duro o caminho

De quem ao teu lado sem pedidos nem favores

Te tirou escolhos da frente

Nada pedindo em troca!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Para onde vou?



Para onde vou se meu barco se partiu?

Como navego em águas turbulentas e ondas altaneiras?

Meu barquinho partiu-se

Sem arranjo

Sem casco para navegar.

Será que foi por falta de estimação?

Será que por carga demais?

Porque se partiu tão cedo o meu barco?

Porque não consigo que ande?

Vou deixá-lo abandonado depois de tanto me dar?

Tudo sem seu tempo?

Tudo se perde no espaço da vida?

Então!

Então queima-o!

Queima-o para que em noites da tua velhice

Mesmo olhando outras madeiras

Outras pinhas na lareira

Te lembres que o meu barco

Te levou pela vida