quinta-feira, 23 de abril de 2009

Noites






Quando a noite chega à madrugada…
Quando essa noite de putas e vagabundos
De marginais e bêbados me esquece,
Sinto que me perdi em mares frios
Em tempos que não existem
Em momentos que deixei como areia…
Escorregar por entre o cetim macio da minha camisa de noite.
Passo as mãos sobre o meu corpo quente
Não tenho nem cheiro
Nem desejos.
Olhos vazios e cegos no escuro
Aguardo que o bafo de amor se deite ao meu lado
Respirando ofegante e pleno
Que o suspiro do êxtase se espraie em mim
Que a fogueira se apague lentamente.
Em gemidos tranquilos de cansaços.
Meus pés procuram os teus por entre as dobras do lençol
Não estás!
Nunca estiveste!
Eu é que te sonhei em mim.
Que me sonhei mulher
Quando me apagaste apenas num sopro.

domingo, 5 de abril de 2009

Dançando a vida





Como se dança sozinho uma dança de vida interrompida?
Como mos merecemos um ao outro, se a musica soa em martírios.
Como te chegas a mim momentaneamente, em interrupções…
Deixando o tango amargo, pesado e cruel para que se mantenha em som de harmonia.
Ouves a musica?
Sabes o que se passa neste momento?
Uma música fúnebre envolve a casa.
São dores repetidas!
É a solidão, o passar do tempo
Que me esgotou a força
Sabes como vivem as sementes que juntos plantámos?
Num vaso de vício!
Num charco de lama…
Que nem as minhas lágrimas conseguem fazer mudar.
Tu embriagas-te com momentos
E eu, embriagada também, acredito em ti…
Ajuda-me!
Dança comigo até à exaustão.
Que na musica em uníssono, mesmo com mil instrumentos tocando
Possamos ouvir o mesmo som.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A espera do combóio






Vieste sereno e meigo
Chegaste cheio de luz no olhar
Tanto carinho para mim...
Meu sentir fica perdido.
Não te conheço com tanta versão de sentimentos
Soa-me a inverdades, a palcos e teatros.
Deixo-me adormecer nos braços de um desconhecido
Modificado pela ausência, transformado por marcas de pecado.
Quem és tu?
Que me desassossegas e tanto me dás?
Que me abandonas em silêncio profundo
Ignorando logo de seguida
A minha abnegação
A minha lealdade
A verdade que nunca escondi.
Que me pedes para saltar muros intransponíveis
Que sentes as forças faltarem-me, mas insistes na minha capacidade.
Quem és tu …
Que passam anos
Passam dias
E não te ouço dizer
Descansa, mereces!
Deitada num sofá de penas e mágoas
Vestida em trajes elegantes
Colocas-me na linha de morte sem compaixão
Porque servirei até ao fim…
Porque do impossível, faço possível
Porque os bons momentos guardas para ti.
Em serenidade o comboio que passe.