sexta-feira, 2 de abril de 2010

No espaço do tempo.....1973 / 2010





Uma estrada …
Empoeirada…
Dançando em lágrimas contidas.
Não a guardei na memória.
Era o caminho para o adeus.
Não sei!
Não guardei, nem quero recordar.
Sei que nem permitido me foi chorar.
Fiquei absorta em mágoas…
Não via estradas
Apenas sentia o partir em ti
Um partir pungente
Nas tuas costas desenhadas no recorte da porta
Deixei meus olhos aí cravados.
Lembro-me …
Claro que me lembro…
A dormência do desalento em formigueiro
Percorrendo-me o corpo
As pernas sem força
O meu grito dolente contido em mim.

Mas o espaço apaga o tempo
Em que se recorda uma vida….
Absorta em mágoas perdi-o!
Esse tempo que seria para todo o sempre…….
O sempre…
Que me levou a novos caminhos
Caminhos de vida diferentes.
De um afastar constante de memórias
Em esforços dos dias volvidos.
De dias que foram chegando lentamente
Ocupando-me o latejar da vida.

Nunca deixei de sorrir…
Como nunca deixei que por trás do sentir
Não ficasse como em névoa de uma manhã gelada…
As tuas costas voltadas para mim.
Passando a porta do esquecimento.
E, lembrei-me sempre em secretismos
Falando fugazmente não fosse um deslizar de palavras
A minha condenação.

Porquê?
Porque me trás de tão longe…
De novo a tua voz
A tua presença
Já nesta hora de cansaços mágicos
Em que o sol declina tão devagar no tempo da vida?
E de novo meus olhos abertos na noite
Obriga-me a lembranças…
A encantos, esperas e ânsias.
Ouço-te em melodias que não tive
Em confissões que não fiz.
De novo, em alma e corpo de mulher feita menina.
Como se a partida voltasse e a coragem faltasse.
A pergunta esperada e esquecida.
Lembras-te? Lembras-te?
E tua voz soou em exaltação
Quando te perguntei…
O que julguei esquecido
Fechei os olhos quando te ouvi dizer
Toquei-te!
Uma embriaguez morna, doce, um torpor de sentidos.
Um frémito vibrante em ansiedade.
Não te esqueceste volvidos anos de tantos dias e horas.
Parei os sentidos naquele instante.

De tão longe, senti-te perto
Como se um abraço de espírito me envolvesse.
Não tinhas esquecido!
Guardaste o que fechei sem esquecer.
Nada pedi, nem sequer a Deus…
Nada Lhe pedi…Juro-te.
Para que neste infinito que nos separa.
Sem promessas nem compromissos…
Sem futuros incumpridos…
Mesmo que por momentos…

Minhas mãos toquem as tuas
Apertando-as como no derradeiro dia
De um dia que foi distante…
Para que me toques de novo.
Entrelaces minhas mãos nas tuas…
Mesmo que a seguir seja para te dizer
De novo, eternamente adeus!