quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sopro



Terminei o meu luto.

Tirei de cima de mim o véu que me toldou a vida.

Mas a ti!

Soprei na tua alma, tanta dor e angustia...

Que rogo que vivas mil anos arrastando correntes de maldição

Em silêncio e lágrimas baptizei-te para sempre.

Soprei a tua geração presente e vindoura

Com mil forças reunidas

Pagarão em dobro os teus actos e atitudes

O sofrimento que causaste

Assim será!

Enquanto uma gota do teu sangue, mesmo em parentesco afastado

Habitar este mundo e quiçá, outro se existir.

Até à extinção dos tempos, pagarás por tudo...

Maldita!


quarta-feira, 30 de julho de 2008

Estagnado



Estagnado e em raízes sem fundo

Assim te vejo

Sem cabeça...

Perdido em desertos de quimeras

Esquecido até de ti

Iludido e mal tratado

Tu!

Tu foste tão sublime.

Tão respeitado e amado.

Como se pode perder a inteligência!

Como se pode ser invadido de tal forma….

Que até o amor-próprio se esquece!

Que ganhaste?

Desilusões…

Comédias …

Um palco de vida que não é teu

Perdeste a palavra

A honra

Perdeste-te em caminhos sinuosos e sem rumo.

No fim….

Depois de usado…

Deitado longe do lixo…

Fora do lixo

Bem longe do lixo, onde estagnaste.

No pântano lodoso de mentiras e teatros baratos

Lá permaneceste

Julgando enobrecer, transformar, dar valores…

Ingénua cabeça!

Perdeste o tino?

Modificar?

Tão arreigadas atitudes e condutas?

Como te iludiste!

Esse lixo jamais mudará.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Adorada



Já sem forças…

Cansado e velho.

Corpo deformado pelos anos

Espírito em erosão de complexos

Mente em trapos e desencantos.

Personalidade esgotada em falsidades

Alma doente de angústia

Humilhado como um escravo.

Depois de tanta servidão…

De tudo fazer e tentar…

Porque não?

Deita-te com ela

Dá-lhe o teu corpo gasto

Que se não morrer de veneno

Será comentado em noites de gargalhada

Em conteúdo de conversas habituais

Que não sendo de homens…

É de Armani ou Dolce Gabbana

De dinheiro, ou cristais mal pronunciados

Porque de que mais podem falar?

Emergentes em sociedade

Pobres em atitudes

Esfomeadas de sabedoria.

E tão adoradas…

domingo, 27 de julho de 2008

A estrada do sítio sonhado



Pela estrada do sítio sonhado.

Silencio e gelo.

Um gelo cortante em dia pleno de calor.

Percorrida mil vezes…

Em cumplicidades de vida

Em sonhos vindouros

Em paz e dádiva.

A estrada…

A mesma!

Mas nós, tão diferentes no sentir.

Apenas de hábitos trajados.

Lado a lado mas afastados.

Os sonhos perderam-se em caminhos sujos.

A paz apenas existe…

Porque me calo indiferente a tudo.

Os sonhos afastaram-se em deslealdade e estupidez.

Recolho pedaço a pedaço

A tua ignorância

A tua deslealdade

A imbecilidade

A tua fraqueza cheia de pústulas nauseabundas.

Ainda me custa!

Ainda me custa sim…

Saber que amei a vulgaridade

Que me dediquei totalmente

A um fraco.

Um ser tão vulgar e rastejante

Que se tivesse força…

Irava-me contra mim.

Contra mim apenas

E nunca contra ti

Porque nem a minha ira tu mereces.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Só!



De novo escrevendo sem saber como se escreve.

Num vazio saboroso e sereno.

Vou gostando de mim, do meu equilíbrio

Das dores da alma que vão passando.

De me convencer, que apenas me devo amar a mim.

Como me esqueci de viver!

Esqueci-me completamente.

Trancada num mundo de dor e angustia...

Enquanto lá fora, as flores continuam a abrir-se em tons lindíssimos

As nuvens surgem em mil formas

O mar, mantém a seu tom da maneira como o quero ver.

O mar… tão identificado comigo!

Tanto tempo revolto e cinzento.

O meu coração tão cinza como esse mar.

Tão imenso na extensão de dar.

Dar!

Dei tanto!

A porta fechou-se nas tuas costas.

Olhei

E somente um sorriso.

Tudo me parece vago.

Pela primeira vez sem lágrimas.

Sem dor.

Em casa o teu lugar vazio…

Mas nada me dói.

No chão deitada…

Respiro fundo!

Sinto paz.

Sinto prazer na solidão.

Afinal…

Sempre estive só.

Apenas, demorei a acreditar.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Intuição




Foi intuição…

Claro que foi!

Bem no íntimo fiz-te diferente.

No âmago do meu ser, nunca poderia ser nem acontecer.

Como ruíram os pés de barro em mil pedaços partidos.

O ídolo

O tão amado

O esperado

O amigo

Amante eterno como me pedias…

Caído em tentação, é possível…

Na escolha triste

Ausente de senso e imbecil apenas.

De repente…

Do orgulho fez-se pena

Do orgulho, fez-se dó

Da lucidez…

Em nós que tanto te amámos

O espantalho perdido

O espantalho!

Triste, usado, sozinho e imbecil espantalho.

Quando te toquei



Incrédula e tranquila

Quando te toquei…

Senti que não eras tu.

Apenas resta uma imagem longínqua e esfumada

Apenas um hábito

Um hábito perdido em anos

Um ser faminto de dignidade

Esfomeado de sabedoria

Esfarrapado no vestuário da alma.

Toquei, pensando ser irrealidade

Mas de ti nada resta

A não ser o fumo escoando-se nos dedos dos meus sentidos

A vergonha de te ter feito diferente.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Será magoada a presença!

Voltou a ser adolescente

Ao fazer de mim um homem.

Se necessário não comia, para que eu me alimentasse.

Deu-se inteira...

Foi mãe, amante, mulher em pleno.

Deu-me seus braços, circulo abençoado de repouso.

Veio para mim sem interesses nem ambições.

Enfrentou com vigor de alma, as tempestades da vida.

Aliviou meu fardo nas horas más.

Cobriu-me com seu corpo nas guerras, para que não me ferissem.

Velou meu sono nas doenças que surgiram.

Limpou meus sapatos fazendo-me apresentável, bonito.

Guerreira implacável sem temores...

Frente às leis de sabedores e juristas, nada era obstáculo.

Dava a face com sapiência e vencia!

Do impossível, fez possível.

Não distinguia classes sociais...

Nem a assustavam manipulações importantes.

Todos os seres eram iguais.

Não tinha falsidade, nem mistérios, nem mentiras, nem omissões.

Amou a natureza.

Os espaços com linha de horizonte.

Falou com os animais.

Mandou recados pelo vento.

Beijos pelas estrelas.

Deixou o amor reinar sobre a inteligência

Amando amigos como irmãos

O irmão como um filho

Os filhos como relíquias

E a mim como um Deus!

Lembro-me da ternura do amor sussurrado baixinho...

Da força intrépida para segurar o leme

Do rumo do barco em que viajámos juntos.

Não cheguei ao âmago do seu entender, A VIDA.

Chamei-lhe poeta!

Abandonei a poesia que bebemos

E da qual todos saciámos nossa sede.

Nem nos filhos encontro parecenças dela

Pois até isso me deu!

Magoei-a, feria-a como se abate pelas costas, à traição, o inimigo

E...ela perdoou!

Seu porte altivo foi-se curvando de desgostos, de omissões, de falsidade.

Seus olhos pararam no vazio da dor...

Sem brilho, toldados de lágrimas, de silêncio...

Perdeu a alegria e mesmo assim fez-se mil vezes palhaço.

Nem sequer um beijo, um adeus....e ela partiu.

Nem sequer uma flor, uma hortense roubada para lhe dar....e ela partiu.

Nunca nada exigiu...e ela partiu.

Mas...no adeus deixou escrito

AI DE TI HOMEM QUE DOS DIAS QUE TERÁS PARA VIVER...

SEMPRE, SEMPRE, EM CADA FIM DE TARDE...

AO ENTARDECER!...

DE TODAS AS TARDES DOS DIAS QUE TE RESTEM...

TEU PEITO NÃO SE ENCHA DE SAUDADE

E TEUS OLHOS DE LÁGRIMAS POR MIM.

(Será eternamente para ti, o que deverias ter enobrecido )

quarta-feira, 2 de julho de 2008

No peito!




Perdida na juventude da vida

Mas em acolhimentos constantes

Escolhida em todos os momentos

Aqui estive de peito exposto

Em momentos de naufrágios

Em mil aventuras

Esperando sem alcançar

Que um peito me acolhesse

Que me fizesse parar

Parar apenas...

Poder sonhar

Sonhar o que de direito me assiste.

Que meus sonhos desviei

No desvelo que vos dei.

Estou exausta de ânsias

De abandonos e tormentas

De ser porto seguro e farto

De esperar em vão.

Sinto o vazio sugando-me

Sempre exigindo

Sempre chamando

A sombra que nunca chega

Na caminhada em que ando

A paz merecida

Dos momentos que me surgem.

Constantes e implacáveis

Enquanto vivem, alimentando-se de mim...

Dos meus momentos para vós

E por vós feitos!

Sigo calada e em surdina

Vou levando...

Vou levando...

Até quando?

Até quando…

Parasitas da minha existência.