quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Jornada



Sabes?

Eu tinha uma jornada.

Tinha um caminho definido

Uma mão que me encaminhava

Um trilho sem grandezas nem fama mas tranquilo

Tinha um sonho

Um sonho que se desvaneceu

Um horizonte diferente.

Tinha pouco para ser feliz

Mas tinha até mais que o meu próprio pai, se este me faltasse!

Tinha o tambor e a marimba para ouvir.

Ver o capim renascer em cada chuvada

Dormir ao entardecer

Acordar na madrugada

Sentir o tempo sobrar

Quando agora não me chega para nada.

E o tempo passa e lágrimas correm-me pela face

Tudo deixei por ti

Para agora, não ter nada!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

De frente



Foi assim...

Assim, que estive sempre

De frente virada para ti e sem rosto porque acreditava

Meu peito era saudável em esperança

Saudável em orgulho

Forte em confiança

Como é triste alguém perder tanto…

Como deve ser vazio o sentimento de ausência de dignidade.

Não omitas…

Omitir é como mentir.

Não cries expectativas

Nem falsas vontades.

Não cederei nunca mais.

Serás tão mesquinho e repugnante

Como ás vezes tenho medo de pensar que és.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Prisão



Não farei nada

Não me vencerás pela prisão a que me submetes

Não tirarei correntes

Não soltarei os pulsos

Não farei o que me pedes

Nem viverei para me sentir assim

Não serei como tantas e tantas, comendo e bebendo aceitação.

Não permitirei que me mandem parar

A paragem será na morte.

Da morte que ao acontecer…

Silenciosa e sem testemunhas

Me há-de soltar os pulsos

Fazer-me livre.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Domingo




Ninguém poderá entender

Imaginar a angústia de dias seguidos em coma de emoções

Querendo e não tendo

Esperando sem regressos

Olhando domingos passados matando dias de vida

Fazendo uma penitência por pecados que não cometeu

Partir em bocados ilusões e esperanças

Presa, sempre presa sem grilhetas,

Invocando, implorando sem tréguas.

Atolada em areias movediças

Que quanto mais me debato mais me engolem.

Hoje, hoje em tempos de liberdade!

Vive-se tragada em escravatura disfarçada e subtil.

Porque me prendeste quando estava de costas?

Porque me envolveste numa teia gigantesca de aranha.

E esqueces o ferrão mortífero e final

Para aos poucos e em agonia

Colocares veneno em minha alma e meu corpo

Matando lentamente

Fazendo-me perder forças

E incrivelmente…O pior dia é sempre ao domingo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sentada na noite




Se os meu pés pudessem caminhar…

Se o que me rodeia tivesse expressão

Caminharia ao encontro do infinito

Mas sinto horas iguais

Momentos sem vida

Pessoas que passam sem contorno

Como fantasmas acompanhando a minha quietude

Sento-me olhando a noite

Julgando que o sol está a despontar

Quando afinal se escondeu…

E o dia vai começar.

Sinto frio mas neva no meu espírito.

Nunca vejo o sol

Sinto um cárcere

Umas grades invisíveis

Perdi a esperança da liberdade

E só tu

Só tu que aqui me colocaste

Me podes resgatar

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Dono do meu tempo



Dono do meu tempo

Homem que caminhas com o relógio da minha vida na mão.

Dono das minhas horas

Liberta-me

Deixa-me caminhar a vida

Percorrer o caminho

Não ficar assim

Porque me manténs prisioneira?

Porque são teus passos o compasso das horas

Porque não me abres a porta?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Pedido


Tanto pedido

Tanto amargor

Tanta voz ao vento…

Mil vezes rogado e não atendido.

Não me perderei

Desafiarei o mar violento

No meu barquinho sem casco e cansado

Atravessarei ondas altaneiras e fortes.

No porto de abrigo…

Deixo-te as sementes

As sementes do fruto que cuspiste

Que não escutaste

Que adiaste em razões infundamentadas

Eles cobrarão o adeus no horizonte

O barco navegando assustado mas firme.

Desaparecendo na neblina

Sem rasto e sem retorno

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Enquanto...





Enquanto

Enquanto não chove vem-me buscar

Não deixes meus dias consumidos em cigarros …

Enquanto não chove…

Não te esqueças de mim.

Porque nada de mim mais consigo dizer

Porque nem pedir consigo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Leva-me



Leva-me por esse caminho de sonho

Dá-me a mão e nada perguntes

Saboreia a paz que nos envolve

A felicidade de caminhar ao teu lado

O bem de estarmos apenas juntos

Não me dês mais nada, que nada mais quero

Mesmo que seja irreal, que seja em sonho

Faz-me sonhar como fazias …

Faz-me viver

E saber, sentir que há um caminho

Um caminho de paz

A paz que sinto ao teu lado.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Uma flor




Quando o tempo se torna passado

E revejo momentos…

Quando a beleza se aproxima em imagem do que tinha

Uma brisa suave e cálida enche a minha alma

E até as flores

As flores que me deste tornam a florir.

Mas faltas tu.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não.



Não me amarres a mente.

Não permitas que pare.

Não escolhas por mim.

Não me deixes assim parada e sentida.

Nas manhãs que são tardes de noites sem alvoradas.

Faz-me vida em promessas cumpridas

Em verdades realizadas

Não adies peço-te, que o tempo é curto

Por favor sossega o meu pensamento

Em hipóteses constantes, em discursos diferentes.

Em falta de rumo.

Porque ainda foi ontem que me dizias

Que jamais me abandonarias.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

À margem


Na margem…

Entre escolhos e despojos.

Arrastada em tempestades.

Sem esperança e à deriva

Bate meu corpo inerte.

Não sei se existe sol, uma mão ou um pontão.

Vou batendo nas margens ao sabor do tempo

Tão nublado este lugar! …

Deixo-me arrastar pela corrente envolta em cardos.

Cansei-me de tentar agarrar-me a nada.

Desisti da esperança da tua mão para me ajudar.

Do porto de abrigo.

Como te conheço…

Como sei que esperas que o tempo passe.

E no passar do tempo, entre escolhos e despojos.

Batendo ao sabor das correntes.

Agredida por cardos e maus tratos.

Depressa esta alma e este corpo sucumbirão.

E apenas tu…

Tu, assassino de olhos de anjo.

Apenas tu, saberás como foi fácil levar-me ao fim.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Bendição



Vêem-me à recordação…

Minha companheira permanente e sempre presente

Momentos, vivências…

Lembras-te como me amavas?

Lembras-te como concebemos em amor infinito a nossa filha?

Como depois do amor

O sorriso

O cair nos teus braços

O teu olhar tão puro

Um amor de eternidade dizias…

A menina que tu querias.

Não existiam técnicas capazes...

Nem a precisão actual que a genética tem .

Lembro-me das tuas palavras.

A minha filha ficou feita hoje!

O amor faz milagres.

O amor consegue.

Disseste-o com firmeza!

E eu como bendita concebi.

E dei-te a filha que tanto querias.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A ponte




A ponte vai submergindo lentamente.
Ainda consigo!
Ainda consigo atravessar se o tempo não passar rapidamente
Pés molhados na travessia...
Mãos que se agarram a nada...
Nevoeiro dissipado e a outra margem surgirá.
Mas por favor estende-me a tua mão
Antes que seja tarde demais.

Folha de outono




Não deixes que caia a última folha de Outono.

Do Outono em que me tens.

Deste Outono que se aproxima…

De dias ensolarados que me fazes perder.

Deixa que haja luz na minha vida.

Que ainda consiga segurar…

A última folha, sem que ela se perca irremediavelmente

Caída para sempre.

Mais um dia!





A noite caiu.

O dia passou.

Caminho sem destino, sem rumo na noite fria.

Ninguém, ninguém ocupa o meu lado.

Não é solidão…

A solidão é fácil de suportar.

A condenação sem fundamento, não!

Caminho…

Caminho em passos pequenos para não chegar ao fim do caminho.

Em direcção ao fim.

Ao fim que a todos espera mas que em condenação antecipas.

Tu sabes bem!

Tu sabes, que a mim não se pode fechar a porta

Não se pode impor clausura.

Nasci para me sentir livre.

Para ver o sol fechar-se ao fim do dia, em campo aberto.

Aqui me guardaste, fechada e sem sol.

Na noite constante.

Nos dias sem fim.

Morrendo todos os dias.