sábado, 3 de julho de 2010

Meu amor




Minha fonte de mel
Com olhos de luar
Sem máscaras
Nem presunções
Canto morno da minha alma
Choque de me sentir ser mais mulher
Como um cacho de flores de jacarandá
Solto na tempestade de um país longínquo
Luz acesa no meu ser
Meu sol quente
Tudo em ti comigo é tão certo
Porque tardou…
Porque chega agora em catapultas de amor
Tu que me dás a mão
E fazes a rua deserta para que eu passe
Que me chamas em sons que violam os meus sentidos
Que fico intensa de amor
Perdendo-me em desatinos
Em lamentos contidos
Em noites de amor
Que acabo em delírios nunca experimentados
Abre-me os braços
Cobre-me de beijos
Aperta-me no teu peito
E não me soltes por nada
Prende-me a ti!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

No espaço do tempo.....1973 / 2010





Uma estrada …
Empoeirada…
Dançando em lágrimas contidas.
Não a guardei na memória.
Era o caminho para o adeus.
Não sei!
Não guardei, nem quero recordar.
Sei que nem permitido me foi chorar.
Fiquei absorta em mágoas…
Não via estradas
Apenas sentia o partir em ti
Um partir pungente
Nas tuas costas desenhadas no recorte da porta
Deixei meus olhos aí cravados.
Lembro-me …
Claro que me lembro…
A dormência do desalento em formigueiro
Percorrendo-me o corpo
As pernas sem força
O meu grito dolente contido em mim.

Mas o espaço apaga o tempo
Em que se recorda uma vida….
Absorta em mágoas perdi-o!
Esse tempo que seria para todo o sempre…….
O sempre…
Que me levou a novos caminhos
Caminhos de vida diferentes.
De um afastar constante de memórias
Em esforços dos dias volvidos.
De dias que foram chegando lentamente
Ocupando-me o latejar da vida.

Nunca deixei de sorrir…
Como nunca deixei que por trás do sentir
Não ficasse como em névoa de uma manhã gelada…
As tuas costas voltadas para mim.
Passando a porta do esquecimento.
E, lembrei-me sempre em secretismos
Falando fugazmente não fosse um deslizar de palavras
A minha condenação.

Porquê?
Porque me trás de tão longe…
De novo a tua voz
A tua presença
Já nesta hora de cansaços mágicos
Em que o sol declina tão devagar no tempo da vida?
E de novo meus olhos abertos na noite
Obriga-me a lembranças…
A encantos, esperas e ânsias.
Ouço-te em melodias que não tive
Em confissões que não fiz.
De novo, em alma e corpo de mulher feita menina.
Como se a partida voltasse e a coragem faltasse.
A pergunta esperada e esquecida.
Lembras-te? Lembras-te?
E tua voz soou em exaltação
Quando te perguntei…
O que julguei esquecido
Fechei os olhos quando te ouvi dizer
Toquei-te!
Uma embriaguez morna, doce, um torpor de sentidos.
Um frémito vibrante em ansiedade.
Não te esqueceste volvidos anos de tantos dias e horas.
Parei os sentidos naquele instante.

De tão longe, senti-te perto
Como se um abraço de espírito me envolvesse.
Não tinhas esquecido!
Guardaste o que fechei sem esquecer.
Nada pedi, nem sequer a Deus…
Nada Lhe pedi…Juro-te.
Para que neste infinito que nos separa.
Sem promessas nem compromissos…
Sem futuros incumpridos…
Mesmo que por momentos…

Minhas mãos toquem as tuas
Apertando-as como no derradeiro dia
De um dia que foi distante…
Para que me toques de novo.
Entrelaces minhas mãos nas tuas…
Mesmo que a seguir seja para te dizer
De novo, eternamente adeus!

sábado, 27 de março de 2010

Gaveta de flor de jacarandá




O ranger acordou-me quando cheia de temores tentei abrir, a minha gaveta mais fechada da minha alma.
Fiquei estática, tremendo, sentindo que deveria continuar fechada
Levemente sem precipitações nem sofreguidão…
Sem testemunhas, sem partilhas.
Abri de mansinho na escuridão da noite a minha gaveta selada pelo tempo.
Não quis nem a luz acesa, nem presenças que me são queridas.
Abri e fechei-a de novo!
Fiz mil vezes…Tantas vezes!
Meus joelhos tremiam no sossego de uma noite tão fria, que mais fria ficou.
Apenas uma leve ranhura para a espreitar no escuro do meu quarto.
Meus olhos viam mesmo na escuridão, como querendo vislumbrar na noite tudo o que tinha guardado.
Sentia-me tão assustada, hesitei tanto…não fosse o perfume que dela exalava, ter-me embriagado.
Cheirava a flores de jacarandá!
Jacarandá de terras distantes, perdidas na memória dos homens
Lembrada mil vezes por mim, sempre em surdina.
Senti-me extasiada, inebriada, no perfume forte!
Tão forte que era, do tempo fechado.
Como num conto de fadas e em turbilhão de sentidos…
A gaveta estendeu uns braços que me acolheram e me fecharam dentro.
E….vi-me num parque enorme e florido, calcando pegadas, vestígios de tempos remotos.
Segui pisando os passos marcados na relva.
Angustiada e perdida porque os passos marcados acabavam sem rumo.
As flores de jacarandá caíam mansamente apontando-me o Inverno da vida.
Fiz contas ao tempo…do tempo em que ali estivera.
Tudo se passara, tudo tinha sido realidade.
Não foi nem sonho, nem imaginação.
Tudo existiu e quis apagar, escondendo na gaveta, memórias.
Apenas memórias!
O parque era o mesmo despido de flores.
Apenas os passos marcados no tempo.
Voltei correndo para a gaveta escondida dos meus sonhos.
Entrei exausta mas serena.
Consegui abrir a gaveta que permanecerá encerrada para que dela não se escoe o perfume das terras da flor de jacarandá.
Das terras distantes onde menina, a ilusão foi minha companhia
Onde o meu sonho se esfumou …
E apenas permaneceu na gaveta cerrada da minha alma.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cansaço infinito




Estou cansada
Tão cansada como se tudo se esvaísse em finos fios de areia entre os dedos
Soltei a coragem
Já não ouço o eco do meu grito
Abraço-me ao vazio
Tapo a cara com mãos que invento
Tropeço nos meus sonhos amontoados
Escureceu tão cedo hoje
O sono enche-me de esquecimento
Ah menina livre ………….
Com que laços te prenderam os cabelos da alma
Que pesos te colocaram nos pés quando se perderam as tuas meias de renda
Como foste capaz de te sentar ouvindo o vento
Julgando partires com ele