sábado, 31 de maio de 2008

Chave



Toma deixo-te tudo

Os filhos que criei

As casas que preparei

As árvores que plantei

Os pensamentos mal escritos que escrevi.

Aquilo que o sentir nada significou,

Toma a chave do coração que maltrataste

Essa…

Recolhe-a da minha mão já inerte e cansada

Que sirva para abrir o teu coração

Que teus olhos vejam.

O que a tua alma cega negou.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ninguem e todos...



Sem ninguém…

E com todos

Caminho sim

Porque procuro por mim

Caminhos sós…

Porque procuro por mim

Em cada um de nós…

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Banho




Hei-de lavar-me de bondades

De sentimentos e dores

Deixarei cair de mim tudo o que fez sentido

Tudo o que dei e não recebi

Serei novamente outra em mim

Nunca mais verás o meu íntimo

Nem te darei a minha paz

Guardarei as horas amargas nas gavetas da tua alma

Para que as carregues nos dias e nas horas que tenhas para viver

Serei só de mim

Darei apenas a mim

E tu sentirás como é árduo

Como é duro o caminho

De quem ao teu lado sem pedidos nem favores

Te tirou escolhos da frente

Nada pedindo em troca!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Para onde vou?



Para onde vou se meu barco se partiu?

Como navego em águas turbulentas e ondas altaneiras?

Meu barquinho partiu-se

Sem arranjo

Sem casco para navegar.

Será que foi por falta de estimação?

Será que por carga demais?

Porque se partiu tão cedo o meu barco?

Porque não consigo que ande?

Vou deixá-lo abandonado depois de tanto me dar?

Tudo sem seu tempo?

Tudo se perde no espaço da vida?

Então!

Então queima-o!

Queima-o para que em noites da tua velhice

Mesmo olhando outras madeiras

Outras pinhas na lareira

Te lembres que o meu barco

Te levou pela vida

sábado, 24 de maio de 2008

Hoje não.


Hoje não sinto nada...


"Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía;
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto."

Pablo Neruda

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O peso



Carregada, com um peso inexplicável

Sempre responsável

Sempre sem alívio

Envelhecida em culpas dos teus desaires e fracassos

Tenta caminhar tu desta forma!

Segura por momentos o que eu mantenho

Corre sem descanso pela vida

Sem teres apoio

Sem teres família

Sem teres uma mão amiga.

Tudo suportei

Tudo foi tão fácil …

Quando sorrias e apenas dizias

Consegues

Tu vais conseguir!

Mas o sorriso acabou

E em fome fico se me rebelar.

Assim sentindo

O peso aumenta a dor atormenta

E eu lentamente

Não tenho senão seguir…

Seguir!

Apenas seguir.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Caminhos



Ainda me lembro!

Ainda me lembro quando os caminhos eram livres

Quando os caminhos não eram longos

Quando eu vos esperava ansiosa

E vocês …

Vocês!

Chegavam para me ver.

Acabaram os caminhos...

Acabaram os sentidos...

E aqui me deixaram

Aprisionada

E só!

A semente



Fui semente em terreno fértil

De mim brotaram ramos e folhas

A sombra tornou-se farta

A folhagem deu paz

A semente deu frutos

De mim saíram todos os momentos

Dei, dei sem fim

Meus ramos cobriram os dias de sol intenso

Minha fruta saciou fome

Meu abrigo deu guarida

Sem saber….

Sem saber!

Que meu ser se sepultava

Que em vida me cobriam

Porque a sombra diminuiu um pouco

Quando o sol queimou demais

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sentir



Sinto-me só

Cansada e sem rumo

Não és tu a causa

Sou eu e apenas eu.

Acho que caminho ás escuras sem ter direcção

Acho que viver já me cansa

Tudo é igual e nada me deslumbra

Queria parar para ver a natureza mas nesses momentos …

Fecho os olhos porque já deixei de distinguir o que é belo.

Estou tão cansada

Tão exausta

Injustiçada

De saber em verdade que tanto dei

E …….

Nada afinal recebi.

Nada!

E porque não recebi?

domingo, 18 de maio de 2008

Prazer



Não reinarás sempre!

Haverá tempo para tudo.

Passivamente…

Verei seres arrastada em sofrimento pelo percurso que escolheste.

Falta pouco!

O tempo deixa marcas que não se apagam.

Os que desprezaste

Aqueles a quem usaste

Serão os teus carrascos!

Serão os primeiros que te acorrentarão em dor e sofrimento.

Não peças a morte …

A morte será uma dádiva!

Alguém te irá acorrentar a dores e mágoas

Sem trégua…

Sem alternativa!

Veremos!

Veremos,quanto tempo durará o teu reinado de mentira e maldade.

Se eu quisesse acabava hoje.

Mas prefiro esperar!

Dá-me prazer esperar.

sábado, 17 de maio de 2008

Intemporal



O que me dizes e contas é intemporal.

És um perdido mal resolvido com a vida desde que te conceberam.

Quem és tu?

De quem esteve prenhe a tua mãe que nunca amaste?

Como indicas caminhos se és uma encruzilhada de conflitos

Uma encruzilhada de sentimentos ?

Que máscara terás que nem em privado a tiras?

Que homem se esconde atrás de uma loucura que não aceita

Pai?

Tu és pai …

E como refúgio dizes que queres viver despreocupado?

Que é ser pai, se nem filho foste?

Que é ser irmão, se nem dele te lembras?

Quem amas tu?

Que retribuis amor com fuga

Que sorris cinicamente

Sem mostrar a verdadeira face?

Nasceste num signo exacto

Nem a tua mãe se apercebeu…

Que ao parir

Pariu um escorpião

Mas não em astrologia

Um verdadeiro escorpião ocupou o ventre da mulher

A quem desde que nasceste picaste com o teu ferrão.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Futuro



É assim a tua alma…

Escondida na mentira.

Envelhecida pelo caminho que segues

É assim que te vejo

Abandonado de ti e de todos os que te amaram

A tua fisionomia esconde-se atrás desta.

Da verdadeira imagem da tua alma

Velho

Sem rumo

Desgraçadamente desfeito pelas maldades

Assim cairás em terra podre

Porque em podridão vives.

Não terás a mão dos teus

Nem o carinho que te quiseram dar

Nem a ternura que rejeitaste.

Achas que teremos dó?

Achas que os teus filhos correrão em teu auxílio?

Porquê?

A outros deste

A outros amparaste.

No pior sítio cairás abandonado e só

Pelo mal que nos fizeste

E pelo bem que a outrem deste.

Vivendo?



Saio de mim em cada momento

Pouco me importa se vida gira à minha volta

Pouco ou nada pretendo nem espero

Quero apenas o silêncio do ausente

A paz de nada ter

O marasmo de horas iguais

Quero ausência de todos os sentidos

Quero deixar-me embalar pelo vazio

Não pensar em nada nem ninguém

Não tenho ambições nem pretendo ter

Não vivo nem me apetece viver

De mim apenas…

O corpo animado pela vida ainda presente

Porque me tornei um vegetal

E assim permanecerei.

Assim me retribuíram

Assim me quiseram.

terça-feira, 13 de maio de 2008

De pé?



Mantiveste-te de pé velha árvore

Acossada pelo tempo

Maltratada e sem alimento

Deste sombra e abrigo

Protegeste quem à tua sombra se sentou

O tempo é inexorável no seu passar

O tempo castiga

O tempo desgasta

Velha árvore que tanto deste

Que tanta sombra nos dias maus ofereceste.

Agora caída e só

Sem mais poder dar abrigo

Ainda esperam que teu tronco destruído

Sirva para decepar

Para cortar e sangrar

Sangrar em seiva de lágrimas

Em dores incontidas

Em bocados …

Apenas bocados quem sabe...

Para numa lareira em derradeiro doar

Aqueça alguém que sinta frio.

sábado, 10 de maio de 2008

Fragmentos



Pensaste…

Que destruir, seria martelar sem cessar

Martelar as minhas emoções

O meu sentir

O meu ego?

Nem penses...

Apenas ficam fragmentos que se unem

Que se juntam depois de destruídos

Deixa que espectadores de pedra se riam

Deixa que o tempo vá passando.

Da minha cabeça fragmentada em humilhações

Apenas se destrói o que é visível.

A consciência inteira dentro dela mantém-se inalterável

O meu sentir será invencível

Jamais terás a capacidade de vencer por mal

Serás um pária de tudo

E a minha semente

Ficará imune

Tu continuarás sem ser nada

Um lacaio

Um pobre sem rumo nem norte

Sem teres identificação nem respeitabilidade.

Ri…

Ri agora

Porque te espera um vale de lágrimas.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Neblina



Assim chegarás na neblina

Cansado e só

Sem referências

E apenas curvado pelo veneno que bebeste.

Abandonado de ti próprio

Dorido de teres dado aos outros

Negando ao teu sangue

Serás um velho só amargurado pelo remorso

Um homem de letra pequena

A quem ficará o estigma do...

Coitado!

Do pai que deu pouco

Podendo dar muito.

Terás como lugar um banco húmido e sombrio

Serás um estranho no coração dos que tantos te amaram

Dos que esperaram…

Esperam em vão

Dos que em noites a fio se preocuparam contigo

Daqueles que até da tua paternidade duvidaram

Com actos tão duros de saber

Com ausências não forçadas

Mas exigidas na embriaguez de cálices de vidro barato

Quando bebias ilusões

Em falsos copos de cristal

Jorrando veneno

Iludindo-te com vinhos exóticos.

Embriagando-te em estupidez

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pouco falta



Assim te vejo

Assim te sinto

E finalmente…

Deixo!

Embora muito debilitada

Deixo de me preocupar

Finalmente vejo claro

Sem preocupações

Sem dó

Sem lamentos

Nem medos

Caminha pelos teus passos

Segue em frente

Segue esse teu rumo sombrio e tenebroso

Não grites por nós

Nem chames quando o momento chegar

Verás quão dura e triste será a perda

A perda que a nós nos deu a liberdade

O respirar livremente sem a presença

De quem imbecilmente

Nos fez parar

Nos fez ver sombras

Passou anos humilhando-nos

Criticando apenas

Sem nada dar

Afinal o sol brilhava lá fora

terça-feira, 6 de maio de 2008

Olhos...




Olha para mim homem de sabedoria

Homem capaz de tudo.

Olha!

Mesmo com esses olhos cegos

Olhos que!

Apenas fingem que não querem ver.

Como te danificaram a imagem.

Como te pintaram do que não és!

Vai olhando e pacientemente esperando.

A paciência é própria dos capazes dos inteligentes.

Deixa-te estar cego no barco da vida

Não enxergues e mantém apenas os olhos da alma abertos.

Verás!

Como com ingratidão e maldade…

Pagam o que em esperança deste.

Sente como eu …

Sente o ardor do punhal ferindo as tuas costas.

Mas, não tires a máscara.

Dança freneticamente o carnaval da vida

Ele irá durar o tempo que quiseres

Esconde-te atrás desses olhos cegos

Mas que tudo vêem e sabem.

Um dia será o teu dia.

E ao teu lado estarei para te apoiar

Saborear o gosto doce …

O momento que sabemos que não tarda

O momento …

De arrancar o punhal que com ingratidão

Cravaram nas tuas e nas minhas costas.

domingo, 4 de maio de 2008

Tristemente



Homens como tu…

Poucos como tu.

Nunca tiveram mãe, nem irmãos, nem família

Nem mulher e filhos.

Nem amigos.

Vivem num buraco autista

Não tocam as mãos que se estendem

Esquecem filhos e família

Dizem viver dia a dia mas mentem-se

Embrulham-se em mentira

Para alimentarem o ego doente

Esbanjam sentimentos como se fossem areia ao vento.

Não tem culto, nem pela paternidade

Nem pela família.

E amigos…

Que amigos?

Amigos que recebem que nada dão.

São tristemente doentes

E teimosamente sós.